terça-feira, novembro 28, 2006

Mais algumas notas sobre o Sermão de Santo António aos Peixes

O Padre António Vieira definiu como devia ser a linguagem: as palavras devem ser como as estrelas, distintas e claras.

Vejamos, seguidamente, as principais características do estilo de Vieira, ao qual, antes de mais, atribuiremos as qualidades que a estilística estabeleceu para a boa linguagem: pureza, correcção, clareza, precisão, ordem e propriedade.

Raciocínio silogístico, de forma que se pode por vezes reduzir o conteúdo essencial de um sermão a um verdadeiro silogismo; Deus castiga os injustos, Deus castiga os Portugueses: logo, os Portugueses são injustos (no Sermão dos Escravos);
demonstração do conceito que pretende impor ao auditório pela evidência;
recurso a afirmações categóricas inadmissíveis que depois conduzirão os ouvintes à verdade contrária (constitui, por assim dizer, um tratamento de choque): demonstração pelo absurdo, o uso de construções paralelas ou antagónicas, anáforas e repetições;
observância do ritmo da oratória, por vezes abruptamente interrompido a fim de produzir uma impressão de inesperado;
adjectivação dinâmica (isto é, gradativa, começando pelo adjectivo de significação mais ténue - gradação crescente, ou pelo de significação mais intensa - gradação decrescente);
graduação das enumerações e acumulações quer de substantivos, quer de verbos.

O esquema mais comum dos Sermões de Vieira parte geralmente dum passo das Escrituras, que depois demonstra como irrefutavelmente aplicável às condições da sua época; um dos aspectos mais válidos, pois dos seus Sermões podemos dizer que consistem na actualização da Sagrada Escritura, cujas verdades Vieira demonstra que são eternas e intemporais: «conceitos predicáveis».

Embora grosseiramente, podemos distinguir nos Sermões três categorias relativamente à intenção: políticos, sociais e religiosos. Quanto à intenção política, distingue-se na sua obra um intuito bem determinado na legitimação da dinastia de Bragança, na qual vê a satisfação dos seus anseios sebastianistas de sonhador e visionário. A obra fundamental que explica e em que se explica a ideia política do Padre António Vieira é, contudo, para além de Sermões e Cartas, onde constantemente se reencontra, a História do Futuro. Nessa obra ele faz-se o intérprete e o profeta da ideia do Quinto Império, perfeito, estável e durável, durando «mil anos ou muitos mil». A proposta audaciosa de Vieira anuncia não apenas a Monarquia de Portugal, mas o Império do Mundo, «sem termo nem limites».

Quanto à intenção social, torna-se o mais ardente paladino da libertação dos escravos e do regresso e integração dos judeus e cristãos-novos exilados.

O plano do Sermão corresponde sempre, de modo geral, ao plano clássico, constituído por: Exórdio (em que geralmente termina com uma breve oração invocando à Virgem), Argumentação (um Desenvolvimento, com uma Demonstração e uma Confirmação), e a Peroração ou conclusão.


O Sermão de Santo António aos Peixes parte da lenda medieval segundo a qual o Santo, numa das suas pregações em que não é ouvido pelos homens, lança a sua palavra iluminada na praia deserta, e os peixes levantam a cabeça à superfície das águas, como sinal da força da palavra de Santo António. O sermão desenvolve-se depois como uma alegoria: também o Pe. António Vieira irá falar aos «peixes», que agrupa segundo categorias humanas.

O sermão divide-se fundamentalmente em duas partes: aquela em que se dirige aos peixes bons e aquela em que fala aos peixes maus.

Estabelece um paralelo, necessariamente conceptista, entre os vícios dos peixes e os vícios dos homens (o «tubarão», o «pegador», o «voador», etc.), estabelecendo contraste entre os louvores dos peixes e os vícios dos homens.

Na Peroração, conclui com um louvor aos peixes que, diferentemente dos homens, começam por «saber ouvir». Trata-se de um sermão de crítica social, caracterizado por um tom marcadamente violento e de ataque.


in Maria Leonor Carvalhão Buescu, Apontamentos de Literatura Portuguesa, Porto Editora, Porto, 1984

Nota: Os sublinhados foram apenas colocados neste blogue para melhor distinguir alguns aspectos.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Uma lição literária sobre o Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira

Foi pregado este sermão três dias antes de partir para Lisboa, no seu período de apogeu, como político e como orador. É uma peça oratória de primeira classe, quer pela fina ironia, quer pela riqueza e sugestão das alegorias que o seu extraordinário poder de observação lhe permitiu criar.

Partindo do conceito predicável «Vós sois o sal da terra», faz o Exórdio, que termina com a Invocação a Maria.

Depois, entra na Exposição ou Informação, onde se anuncia a sua assinalada ironia: «e desta maneira satisfaremos as obrigações do sal, que melhor vos está ouvi-las vivos, que experimentá-las depois de mortos», diz, dirigindo-se, já, aos peixes. Ao fazer referência às virtudes destes, começa a crítica irónica aos homens convertidos «não em peixes, mas em feras», os homens, que, diz ele em tom de troça, «tinham a razão sem o uso», enquanto os peixes tinham o «uso sem a razão». De todos os animais, os peixes são os únicos que não aceitam a companhia dos homens; e, oportunamente, volta a surgir a crítica irónica: «Peixes! Quanto mais longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com eles, Deus nos livre!» Por isso, quando Deus destruiu o mundo pelo dilúvio, os peixes não só não desapareceram como até se multiplicaram.

Começa, entretanto, a Confirmação, recorrendo a uma argumentação cerrada.

Numa apóstrofe aos «moradores do Maranhão», Vieira concretiza a intenção do sermão, mas rapidamente retoma a alegoria. E começa pela rémora, peixe que compara com a língua de Santo António. Assim como a rémora, «pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme», assim foi a «virtude e força da língua de António» que teve mão nos soberbos, nos vingativos, nos cobiçosos, nos sensuais, o que sugere alegoricamente por meio de naus que a língua do Santo prendeu.

Vem, depois, o torpedo, um peixe que tem o poder de electrizar. Que falta faz ele nos pescadores da terra para lhes fazer tremer o braço e arrepiar caminho! A terceira espécie de peixes que serve aos seus intentos de crítica é a dos quatro-olhos. Comenta: quanto mais necessários seriam nos homens, que a esses peixes, os dois pares de olhos com que foram dotados!

E termina o elogio dos peixes, realçando a sua importância na prática do jejum e o seu mais fácil acesso aos pobres. Naquele tempo, claro!

A Confirmação continua com a censura à prepotência dos grandes que, como os peixes, vivem do sacrifício de muitos pequenos os quais «engolem» e «devoram». Objectiva, concretamente, esta crítica, comparando os pequenos com o pão, que é alimento consumido diariamente, enquanto outros alimentos são revezados no seu gasto. O alvo é a crítica aos colonos que, no Brasil, são grandes, mas no Tejo «acham outros maiores que os comam, também, a eles». Volta a objectivar a crítica, referindo o xareo que corre atrás do bagre «como o cão após a lebre e não vê o cego que lhe vem nas costas o tubarão com quatro ordens de dentes, que o há-de engolir de um bocado».

Outro argumento vem reforçar este convite ao respeito mútuo - a evocação do dilúvio em que os animais «somente dois de cada espécie» se respeitaram uns aos outros para a conservação da espécie. E conclui a sua crítica, dizendo: «Enfim, se eles em tantas ocasiões, pelo desejo natural da própria conservação e aumento, fizeram da necessidade virtude, fazei-o vós também, ou fazei a virtude sem necessidade e será maior a virtude».

Vai, depois, criticar a vaidade dos homens, mesmo naquelas paragens. O peixe não resiste à isca. Aqueles morrem por uma medalha ou distinção. E, se, no Maranhão, «ainda que se derrame tanto sangue, não há exércitos, nem esta ambição de hábitos», há os chupistas, os exploradores que sugam o sangue dos nativos, vendendo-lhes gato por lebre. Os panos que em Portugal não passavam, cobiçam-nos eles, esfaimados «e ali ficam esgasgados e presos, com dívidas de um para outro ano e de uma safra para outra safra, e lá vai a vida: todos a trabalhar toda a vida, ou na roça, ou na cana, ou no engenho, ou no tabacal».

Depois desta visão de conjunto, vai particularizar a sua crítica. Começa por se concentrar nos roncadores, a imagem dos soberbos, e é S. Pedro o símile sugestivo que ele apresenta. «Tinha roncado e barbateado Pedro que se todos fraqueassem, só ele havia de ser constante até morrer, se fosse necessário». E falhou no Horto das Oliveiras, onde se deixou adormecer, e falhou no pretório de Pilatos, onde, por três vezes, negou que conhecia Cristo.

O exemplo do pequeno pastor David que venceu o gigante Golias vem dar força ao argumento «os arrogantes e soberbos tomam-se com Deus; e quem se toma com Deus, sempre fica debaixo». Não foi o que aconteceu, também, com Pilatos?

A crítica volta-se, em seguida, para os parasitas, objectivados nos pegadores que aprenderam «este modo de vida, mais astuto que generoso ... depois que os nossos portugueses o (mar) navegaram, porque não parte vice-rei ou governador para as Conquistas, que não vá rodeado de pegadores». Os peixes pegadores, sobre os costados dos grandes, vivem descansados, mas, lançando o anzol ao tubarão, com ele morrem todos os pegadores. E é a pessoa de Herodes, qual tubarão, que vem concretizar, agora, o seu pensamento crítico, pois, morto o perseguidor do Menino, pôde José voltar à Pátria.

Num rasgo de argumentação, chega a considerar pegadores de Deus, David, Santo António. Mas contrariamente ao que acontece no mundo, Deus «só morreu para que não morressem todos os que se pegassem a ele».

E a argumentação prossegue. Que o exemplo da famosa árvore que representava Nabucodonosor lhes sirva de modelo! «Chegai-vos embora aos grandes; mas não de tal maneira pegados, que vos mateis por eles, nem morrais com eles». O homem, afinal, paga também pelo pecado de Adão, como que o tubarão, de que a humanidade é pegadora.

Outra classe de homens vai criticar, agora, nos voadores - a dos ambiciosos, que se deixam arrastar pela presunção e pelo capricho. A eles se refere, quando diz: «Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem». A argumentação é cheia de graciosa ironia - «A natureza deu-te a água, tu não quizeste senão o ar, e eu já te vejo posto ao fogo», diz ele, em apóstofe expressiva. E conclui com esta sugestiva metáfora: «Bem seguro estava ele do fogo, quando nadava na água, mas porque quis ser borboleta das ondas, vieram-se-lhe a queimar as asas».

O símile da ambição dos homens é apresentado em Simão Mago que, querendo fazer-se passar pelo verdadeiro filho de Deus, ao tentar subir ao Céu, foi precipitado na terra, partindo os pés. Desta forma perdeu as asas e os pés, esse homem ambicioso.

Depois de exaltar, uma vez mais, Santo António, diz aos peixes, sempre para atingir os homens: «voadores do mar (não falo com os da terra) imitai o vosso Santo pregador ... ide-vos meter no fundo em alguma cova; e se aí estiverdes mais escondidos, estareis mais seguros».

Vai oferecer-nos a última alegoria deste inspirado sermão '- o polvo - símbolo dos hipócritas, dos traidores. «O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constan­temente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega que o dito polvo é o maior traidor do mar.»

Neste trecho magnífico, é evidente a propriedade da linguagem, onde todos os elementos se ajustam perfeitamente, a sua tão vasta cultura sacra e profana, o encadeamento lógico das ideias realçado com os recursos do seu talento de orador:


· a adjectivação antitética - «hipocrisia tão santa» - e rica;
· a antítese - «as cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia»;
· o paralelismo anafórico, insistente e incisivo, com o característico alargamento das frases à medida que se aproxima do fim, cortando a monotonia e arrebatando - «Se está nos limos, faz-se verde; se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra»;
· a subjecção, através da anadiplose - «E daqui que sucede? Sucede que outro peixe ... »;
· a interrogação retórica - «Fizera mais Judas ?»;
· a comparação por contraste - «Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende ... »;
· a apóstrofe e a exclamação retórica - «vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!».


Ao terminar este sugestivo perfil da traição, comenta, em progressão: «E que neste mesmo elemento (a água sempre clara, diáfana, transparente - como disse) se crie, se conserve e se exercite com dano do bem público um monstro tão dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente traidor!»

Do polvo, passa às terras de missão onde, também, «há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas, e muito maiores e mais perniciosas traições». Santo António volta a ser o modelo apontado, pois, nele verão «o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade».

Tem ainda uma palavra a dizer aos que morrem, «com o alheio atravessado na garganta»; e faz, então, referência aos que se aproveitam dos bens dos naufragantes» que, por isso, «ficam excomungados e malditos», mergulhando novamente na Sagrada Escritura para colher o caso concretizante: o do peixe que morreu por ter engolido uma moeda.

Vai realizar a Peroração com a «última advertência» aos peixes. Estes foram excluídos do sacrifício consagrado a Deus. Era motivo de desconsolação. Mas tinha de ser assim, porque os peixes não poderiam ir vivos ao sacrifício «e cousa morta não quer Deus que se lhe ofereça, nem chegue aos seus altares». E surge a apóstrofe consoladora e crítica: «Peixes, dai muitas graças a Deus de vos livrar deste perigo, porque melhor é não chegar ao sacrifício, que chegar morto».

Antes de terminar o sermão com um magnífico hino de louvor, a remeter-nos para os Cânticos de S. Francisco de Assis, retrata-se a ele próprio, como pecador, em oposição aos peixes, para atingir a humanidade, em geral.

In Lilaz Carriço, Literatura Prática, vol. I, Porto Editora, 1982

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sábado, novembro 18, 2006

Respostas ao questionário

As respostas ao questionário sobre o Barroco e o Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira, podem ser vistas aqui.


segunda-feira, novembro 13, 2006

Um curto abecedário do Barroco e algumas figuras de estilo

Bach
- Músico do período barroco que se distinguiu pela forma particular de interpretar o órgão e pela introdução da voz feminina na Igreja.

Conceptismo
- Complexo jogo de conceitos, ou seja, de ideias apresentadas com grande subtileza, com recurso a metáforas, paralelismos, jogos de palavras, alegorias e antíteses.

Cultismo
- Processo característico da literatura barroca que consiste no uso de construções sintácticas e jogos de palavras, numa exibição de virtuosismo retórico, de forma a impressionar o leitor.

Deleite
- Sinónimo de prazer aquando da leitura (era o que buscavam os poetas barrocos).

Efemeridade da vida humana
- Tema recorrente da poesia barroca.

Fénix Renascida ou Obras dos Melhores Engenhos Portugueses
- Cancioneiro seiscentista, editado em cinco volumes, compilada por Matias Pereira da Silva.

Galhofeira (atitude)
- Posição trocista face a aspectos diversos do quotidiano.

Imagem
- Elementos a partir dos quais é construído o poema e alvo de especial atenção antes do estudo do poema “À fragilidade da vida humana”.

José Merengelo de Osan
- Nome da pessoa que compilou o Postilhão de Apolo.

Morte
- Realidade suavizada pela palavra “repousa” no poema “À morte de F.” (eufemismo).

Nácar
- Camada interna da concha; por vezes, aparece com o significado de «rosa».

Ornamentação
- Sinónimo de excesso de decoração, característica típica do discurso barroco.

Postilhão de Apolo
- Cancioneiro seiscentista, publicado em dois volumes, compilado por José Merengelo de Osan.

Quotidiano (sátira)
- A poesia barroca critica ou zomba de determinados aspectos do dia–a-dia.

Retórica
- Nome pelo qual o uso das figuras de estilo é também conhecido (a arte de usá-las).

Sinonímia
- Palavras que têm um significado semelhante. Ex: baixel/nau e farol/sol (Existente no poema barroco “À fragilidade da vida humana”).

Tempo
- Um dos temas principais da poesia barroca (a passagem do tempo).

Usos e Costumes (crítica)
- A poesia barroca, e sobretudo a narrativa, para além de abordar temas profundos também critica a sociedade do seu tempo.

Visualismo
- Característica do barroco realçada por formas verbais como “Olha”, no soneto “À efemeridade da vida humana”:

XVII
- Século por excelência do período barroco.

ALGUMAS FIGURAS DE ESTILO OU DE RETÓRICA

Alegoria
- É a corporização de uma realidade abstracta, normalmente conseguida a partir de um jogo de comparações, imagens e metáforas. A literatura portuguesa tem recorrido à alegoria em todas as épocas. São disso exemplo as figuras de Roma e do Tempo, no Auto da Feira, de Gil Vicente; a figura do polvo, no Sermão de Santo António aos Peixes, do padre António Vieira;

Anáfora
– Repetição de palavra ou expressão em início de período, frase ou verso.

Ex: “Quantos, correndo (...) quantos, embarcados (...) Quantos, navegando (...)” (Cap.III, Sermão de Santo António aos Peixes) “Louvai a Deus, (...) louvai a Deus (...)” (Cap. VI, Sermão de Santo António aos Peixes)

Antítese
– Figura que põe, lado a lado, palavras ou ideias, antagónicas.

Ex: Céu/ Terra; Bem/ Mal; Céu/ Inferno; Dia/ Noite; Homens/ Peixes.

Apóstrofe
– Interrupção do discurso para interpelar pessoas presentes ou invocar, sob forma exclamativa, pessoas ausentes, mortas, entes fantásticos ou coisas inanimadas.

Ex: “Olhai, peixes lá do mar e da terra (...)” (Cap. IV, Sermão de Santo António aos Peixes) “Vê, voador (...)” (Cap.V, Sermão de Santo António aos Peixes) “Peixes, dai muitas graças a Deus (...)” (Cap. VI, Sermão de Santo António aos Peixes)

Comparação
– Figura por meio da qual se confrontam duas realidades distintas para fazer realçar a sua semelhança.

Ex: “O polvo com aquele seu capelo na cabeça parece um monge, com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela (...)” (Cap. V, Sermão de Santo António aos Peixes).

Enumeração
– Apresentação sucessiva de vários elementos (frequentemente da mesma classe gramatical).

Ex: “(...) na terra pescam as varas (...) pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões (...)” (Cap. III, Sermão de Santo António aos Peixes).

Exclamação
– Figura pela qual se exprimem sentimentos de admiração, espanto, alegria, susto, indignação, sob forma exclamativa.

Ex: “Oh alma de António, que só tivestes asas e voastes sem sem perigo, porque soubestes voar para baixo e não para cima!” (Cap.V, Sermão de Santo António aos Peixes).

Gradação
– Encadeamento de palavras ou ideias numa ordem progressiva (ascendente) ou regressiva (descendente).

Ex: “(...) da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador.” (Cap. III, Sermão de Santo António aos Peixes)
“ Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado (...)” (Cap. IV, Sermão de Santo António aos Peixes).

Hipérbole
- Figura de estilo que consiste na utilização de termos ou expressões que exageram a realidade.

Imagem
- É a representação sensível, animada e colorida da ideia numa palavra, frase ou parte de um texto. A comparação e a metáfora reunidas originam frequentemente imagens vivas e expressivas.

Interrogação
– Pergunta formulada, não para se obter uma resposta, mas para realçar as ideias do discurso.

Ex: “Parece-vos bem isto, peixes?” (Cap. IV, Sermão de Santo António aos Peixes)“Fizera mais Judas?” (Cap.V, Sermão de Santo António aos Peixes).

Metáfora
– Comparação abreviada pela omissão da conjunção comparativa.

Ex: “(...) às águias que são os linces do ar (...) e aos linces, que são as águias da terra (...)” (Cap. III, Sermão de Santo António aos Peixes)

Zeugma
- Omissão de um termo habitualmente referido na frase anterior:
Jasmim na alvura foi, na luz Aurora [foi],
Fonte na graça [foi], rosa no atributo [foi],

Um questionário sobre o Barroco e o Sermão de Santo António aos Peixes

Como treino e actividade formativa relativamente à época e ao autor em estudo, aqui segue uma ficha formativa com algumas questões

I – Escolhe a hipótese correcta para responderes a cada uma das perguntas que se seguem:

1. O estilo barroco:
a) rompe com a concepção estática e fechada da arte renascentista.
b) dá continuidade à concepção estática e fechada da arte renascentista.
c) rompe com o exagero formal.

2. Quando é que convencionalmente termina o período barroco?
a) Quando se inicia o Renascimento.
b) Quando se inicia o período neoclássico.
c) quando se inicia o Romantismo.

3. O que é a Fénix Renascida?
a) É uma compilação de textos dramáticos e de sermões de vários autores barrocos.
b) É uma compilação de textos poéticos de vários autores barrocos.
c) É uma obra poética de Matias Pereira da Silva e de Francisco Rodrigues Lobo.

4. Quem fez a compilação da Fénix Renascida?
a) D. Francisco Manuel de Melo.
b) Matias Pereira da Silva.
c) Francisco Rodrigues Lobo.

5. Quantos volumes foram publicados da Fénix Renascida?
a) Dois volumes.
b) Três volumes.
c) Cinco volumes.

6. Qual o título completo da Fénix Renascida?
a) Fénix Renascida ou obras Poéticas dos Melhores Engenhos Portugueses e Brasileiros.
b) Fénix Renascida ou Obras Poéticas dos Melhores Engenhos Portugueses e Espanhóis.
c) Fénix Renascida ou Obras Poéticas dos Melhores Engenhos Portugueses.

7. O que é o Postilhão de Apolo?
a) É uma compilação de sermões de vários autores barrocos.
b) É uma compilação de sermões e de textos dramáticos de vários autores barrocos.
c) É uma compilação de textos poéticos de vários autores barrocos.

8. Quem fez a compilação do Postilhão de Apolo?
a) José Merengelo de Osan.
b) Padre António Vieira.
c) Rodrigues Lobo.

9. Quantos volumes foram publicados do Postilhão de Apolo?
a) Dois volumes.
b) Seis volumes.
c) Dez volumes.

10. Quem escreveu a Carta de Guia de Casados?
a) Matias Pereira da Silva.
b) D. Francisco Manuel de Melo.
c) Padre António Vieira.

11. Em que consiste o Cultismo?
a) Jogo de palavras atavés do uso de trocadilhos, aliterações, perífrases e extravagância vocabular.
b) Jogo de ideias ou conceitos sob a forma de comparações, metáforas e hipérboles.
c) Culto dos deuses pagãos.

12. Em que consiste o Conceptismo?
a) Jogo de ideias ou conceitos sob a forma de comparações, metáforas e hipérboles.
b) Jogo de palavras sob a forma de comparações, metáforas e hipérboles.
c) Exploração de um conceito através do raciocínio dedutivo.

13. A profusão de elementos decorativos da frase, os trocadilhos, as hipérboles e até figuras gráficas extravagantes caracterizam o:
a) estilo cultista e gongórico, onde a clareza da ideia sai perturbada.
b) estilo renascentista.
c) estilo romântico.

14. Quais as principais características da estética barroca?
a) Equilíbrio, sobriedade, temática estéril e predomínio da razão.
b) Exuberância, luminosidade, multiplicidade de formas e ornamentação.
c) Desequilíbrio, falta de sinceridade, obscuridade, exagero e sobriedade.

15. No século XVII, o país:
a) estava dominado pela corte filipina e pela Inquisição.
b) estava em plena expansão marítima.
c) conquistava novas terras no Norte de África.

16. O Sermão de Santo António aos Peixes apresenta:
a) uma estrutura argumentativa.
b) uma estrutura lírica.
c) uma estrutura narrativa.

17. No Sermão de Santo António aos Peixes há:
a) um louvor aos peixes para melhor explicitar o elogio aos homens.
b) uma crítica e repreensão aos peixes para melhor explicitar a condenação aos homens.
c) uma crítica e repreensão aos homens para melhor explicitar a condenação aos peixes.

18. O Sermão de Santo António aos Peixes foi pregado na cidade de S. Luís do maranhão, no ano de 1654, e foi uma das formas encontradas pelo seu autor para:
a) chamar a atenção para a situação dos Índios, denunciada por Padre António Vieira em várias situações e documentos.
b) criticar os índios.
c) chamar a atenção para a situação dos colonos, denunciada por Padre António Vieira em várias situações e documentos.

19. Num sermão, o Exórdio é:
a) a utilização de um desfecho forte para impressionar o auditório.
b) o desenvolvimento de ideias.
c) a exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender.

20. Num sermão, a Peroração é:
a) a utilização de um desfecho forte para impressionar o auditório.
b) a exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender.
c) a argumentação utilizada.

II – Completa as seguintes frases apresentadas:

1. Todo o Sermão de Santo António aos Peixes é uma alegoria porque os peixes são _____________________ dos homens.

2. A frase bíblica que serviu de base ao Sermão foi: “Vós ____________________”.

3. As duas propriedades do sal são: ______________________ e __________________.

4. Com base nestas propriedades, Padre António Vieira dividiu o Sermão em duas partes:
____________________________ dos peixes e ________________________dos peixes.

5. O Sermão de Santo António aos Peixes constitui uma sátira social, visto que o seu principal objectivo é ______________________________________________________.