terça-feira, outubro 31, 2006

O Barroco

barroco, s. m., estilo próprio das produções artísticas e literárias, que ocorreu aproximadamente entre os fins do séc. XVI e os meados do séc. XVIII, e que se caracteriza pela pompa ornamental, pelo preciosismo decorativo, pelo floreado e pelos conflitos entre o espiritual e o temporal, entre o místico e o terreno; barroca; cova; barranco; pérola de forma irregular.

A palavra "barroco", como a maioria dos períodos ou designações de estilo, foi inventada por críticos posteriores, e não pelos artistas do século XVII e começos do século XVIII. O termo original é português e designa um pérola irregular ou uma jóia falsa.

Actualmente, o termo "barroco" pode ser utilizado para caracterizar de forma pejorativa trabalhos artísticos ou de artesanato excessivamente ornamentados, tal como muitas outras vezes se emprega o termo "bizantino" como referência a tarefas demasiado complexas, excessivamente obscuras ou demasiado confusas.

Na realidade, o barroco exalta valores através da utilização de metáforas e alegorias, frequentes na literatura deste período, e procura maravilhar e causar espanto, tal como no Maneirismo, muitas vezes por meio da utilização de artifícios, sejam eles de linguagem ou pormenores artísticos. Um dos temas privilegiados é o tormento psicológico do Homem, tendo uma boa parte das suas obras seguido a temática religiosa, já que a Igreja Católica Romana era o principal «cliente» dos artistas e eram religiosos muitos dos escritores desta época, nomeadamente no caso da literatura portuguesa.

Os artistas procuravam a virtuosidade com realismo, tendo uma enorme preocupação com os detalhes (há quem se refira à obra barroca como uma complexidade típica).

Las Meninas, de Velazquez. Clique na imagem para saber mais sobre o quadro.

A falta de conteúdo era compensada através das formas, as quais deviam suscitar no espectador, no leitor, no ouvinte, a fantasia e a imaginação. É um momento em que a arte se encontra menos distante de quem dela pode usufruir, aproximando-se do público de maneira mais directa, diminuindo o fosso cultural que afastava a arte do utilizador, o que, por exemplo, acontecia frequentemente nas igrejas construídas nesta época, quando o luxo aí existente permitia a quem as frequentasse a sensação de pertença, de que também o povo podia agora entrar em ambientes recheados de obras artísticas, apreciá-los e deles usufruir.

Na literatura, encontramos o temática do duplo, a queda que precede a morte, o gosto pelo bizarro, uma enorme obsessão com a morte, porventura originária das inúmeras guerras religiosas que por esta altura abundavam em toda a Europa.

São recorrentes tópicos como o medo da morte, a água corrente que significa o tempo que passa, com ligação à morte simbolizada pela água entre os gregos, romanos e celtas, a metáfora das areias movediças, as formas arredondadas como referência às pérolas irregulares, os reflexos, e a alusão a mitos clássicos como o de Narciso e os «mises en abyme», que na literatura podem surgir sob a forma de textos dentro de textos, os quais reproduzem a história principal em histórias secundárias, tal como o fazem os reflexos entre dois espelhos colocados em frente um do outro, podendo surgir, por exemplo, numa peça de teatro em que um dos personagens representa um actor que representa uma personagem, ou um quadro em que um espelho mostra ao espectador um reflexo da cena que podemos ver pintada.

Para saber mais: aqui.
Sobre o quadro: aqui.


Música do período barroco (mistura editada de Pachelbel, Bach e Vivaldi):


Sobre a música do período barroco: aqui.

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Visão histórica da literatura portuguesa

Uma breve e muito reduzida visão cronológica dos principais autores e obras ao longo da história da literatura portuguesa.










terça-feira, outubro 24, 2006

UM DESAFIO

O

desafio que proponho aqui é continuarem a escrever a história aqui começada.

Quem quiser pode pegar no que já está escrito e continuar. E quem vier a seguir continuar o que os outros antes fizeram. É uma narrativa que pode ter personagens, diálogos, diferentes espaços onde ela poderá decorrer, enfim, é um desafio à imaginação. Mas é preciso não esquecer a coerência. Quem vier a seguir terá que conhecer toda a história para trás, para não trocar nomes de personagens, e ainda menos alterar acontecimentos que já ocorreram.

Ah, e falta um título. Podem colocar propostas para o título e sugestões para a continuação da história nos comentários.

Vamos lá ver quem é que aceita o desafio.

Aqui vai o começo:



Quando ia para a escola pelo atalho do costume, um caminho que cortava pelo meio de um terreno meio selvagem que no inverno ficava empapado de lama, o Pedro deu com um pedregulho que não lhe era familiar naquele sítio. Das tantas e tantas vezes que por ali tinha passado já conhecia todas as pedras do caminho, ao ponto de quase as tratar pelo nome.

Com algum esforço, revirou-o e deu com uma data de maços de notas de 500 euros. Nunca tinha visto sequer uma nota de quinhentos, quanto mais uma quantidade destas. De quem seria aquele dinheiro? Quem o teria ali deixado? Quanto é que estaria ali no total? Uma fortuna, certamente.

Olhou para um lado e outro para ver se não vinha ninguém e se não estava a ser observado. Agachou-se e colocou a sua mochila ao lado dos maços. Começou então a empurrá-los para o seu interior.

( ... )

sexta-feira, outubro 20, 2006

Sobre a ficha de leitura

Apesar de ter enviado um documento com estas informações por correio electrónico para todos os interessados, aqui ficam as orientações relativas à ficha de leitura.

Ficha de leitura

Numa ficha de leitura de uma obra devemos incluir as seguintes informações, que são obrigatórias:

1. Dados bibliográficos




Autor:
Título:
Editora:
Colecção:
Lugar da edição:
Data da edição:
Nº de páginas:

2. Dados sobre o autor e a obra

1. Sobre o autor:



a. Breve biografia do autor (não mais do que dez linhas).
b. Bibliografia activa básica do autor (no caso de grandes bibliografias, incluir apenas as obras consideradas essenciais, referindo os géneros a que pertencem – romance, poesia, teatro, ensaio crítico, ou outros)
c. Bibliografia passiva básica acerca do autor e da obra (referir apenas as obras ou artigos mais importantes publicados sobre o autor, a sua obra, ou a obra em particular que é tratada na ficha).



2. Sobre a obra:



a. Género: poesia, teatro, conto, novela, romance, ensaio...
b. Tema principal: amor, aventuras, ficção científica...
c. Personagens principais: nome, traços físicos e psicológicos de cada uma das principais e das secundárias mais importantes.
d. Lugar e tempo de acção: país, cidade...; Idade Média, actualidade, futuro...
e. Resumo do assunto da obra.



3. Avaliação pessoal

1. Explicitação do título.
2. Vocabulário novo relacionado com a leitura (1).
3. Selecção de um excerto da obra de que mais gostaste.
4. Opinião crítica sobre a obra.
5. Classificação da obra (de 0 a 20 pontos).



NOTA: A ficha de leitura de um livro é um material importante para o teu estudo. Na ficha de leitura registamos informações gerais sobre a obra a que se refere, anotações particulares, sínteses do assunto, etc.

(1) Não será necessário referir aqui todos os vocábulos novos que aprendeste, mas apenas aqueles que achares mais significativos e as áreas com que se relacionam (de carácter geral, de uma temática específica, por exemplo da biologia, da astronomia, da física, da história, da informática, etc.)

Uma «hipérbole» de aliterações

E

ste texto foi retirado do sítio da Internet Ciberdúvidas, um empréstimo que, espero, não seja levado a mal. Atente-se que este texto é originariamente escrito em português do Brasil. Há que dar um «desconto» pelo exagero.




«Apenas e somente a Língua Portuguesa permite escrever isto:

Pedro Paulo Pereira Pinto Pires, pequeno pintor, português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirinéus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses.

– Paris! Paris! - proferiu Pedro Paulo.

– Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir.

Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para a província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai.

Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu:

– Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior.

Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia.

– Porque pintas porcarias?

– Papá – proferiu Pedro Paulo –, pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal. Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro!

Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando.

Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus.

Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro.

Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo.

Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios.

Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo, pereceu pintando...

Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar. Pensei. Portanto, pronto, pararei.

(E achamos nós o máximo quando conseguimos dizer: 'O Rato Roeu a Rica Roupa do Rei de Roma'!...)»



domingo, outubro 15, 2006

A propósito do texto expositivo-argumentativo

Os textos podem ser classificados em três grandes tipos: narrativos, descritivos e expositivos.

No caso que agora nos interessa, irei aqui deixar algumas considerações acerca do texto expositivo-argumentativo.


Argumento é o raciocínio pelo qual, de uma ou mais proposições, se deduz uma conclusão, raciocínio seguido geralmente pelo orador em apoio da sua tese.

Os argumentos oratórios podem ser directos e indirectos. Os directos têm naturalmente conclusão afirmativa da tese sustentada pelo orador, os indirectos, a sua negação. A totalidade dos argumentos directos têm a denominação de confirmação, fortalecendo eles a tese, mas a dos indirectos, a de refutação, contribuindo estes para a rejeição das objecções do adversário.

Os argumentos constituem a parte essencial dum discurso. Todas as outras partes convergem para ele.

Se na demonstração o acento, a tónica, cai na correcção do raciocínio, na argumentação o elemento principal constitui a eficiência desta perante o auditório, cuja adesão à tese sustentada no discurso é seguida pelo orador.



Aristóteles definiu a argumentação como a «arte de falar de modo a convencer».
Ora, toda a arte tem normas e querer fazer o uso de qualquer arte implica o domínio das suas técnicas. E a arte da argumentação obedece a um trabalho rigoroso que prevê várias etapas: escolher o problema, procurar os argumentos e os contra-argumentos, dispô-los adequadamente, construir um discurso convincente, formular juízos de valor.

E se o discurso argumentativo tem o objectivo de usar bem a palavra para convencer, deve procurar cumprir alguns requisitos fundamentais como a clareza, o rigor, a objectividade, a coerência, a sequência lógica e a riqueza lexical.

Assim, sendo mais práticos, para se elaborar um texto argumentativo, dever-se-á:

– começar por uma introdução em que se apresenta o problema que vai ser objecto do discurso (que ocupa, normalmente, um parágrafo);
– em seguida, construir o desenvolvimento, em que se expõem os argumentos e os contra-argumentos fundamentados com exemplos (o desenvolvimento compreende, pelo menos, dois parágrafos – um para os argumentos e outro para os contra-argumentos);
– para finalizar, a conclusão (de um parágrafo) que deve retomar a afirmação feita na introdução, agora já confirmada ou contrariada.



É importante não descurar a sequência lógica que se pretende que haja entre os parágrafos, implicando que se esteja atento ao seu encadeamento, o que se consegue com a utilização de articuladores de discurso ou de conectores (causa-efeito-consequência, hipótese-solução).

sábado, outubro 14, 2006

O que (ainda não) se escreveu aqui

Não sei bem se é por falta de tempo (eu sei que esta gente nova tem sempre muito que fazer, pois claro), por ausência de vontade, por preguiça, por receio de escrever aqui, que não têm surgido textos escritos pelos alunos. Bom, mas está na altura de começarem a aparecer. E de também se inscreverem os que ainda nem têm aqui os nomes.
Como dia o «Estebes», vamos lá cambada. Mãos à obra.

É que, se não forem os alunos a postarem e a comentarem, isto deixa de ter piada e acaba por cair na monotonia.

Contem um episódio que vos tenha acontecido, uma apreciação sobre o que se passa no mundo à vossa volta, as vossas ideias sobre o que quer que seja. Ou um pensamento, um poema, uma ou outra ideia acerca dos livros que estão a ler (espero bem que sim!).

Aqui há uns anos atrás, não sabia bem sobre que escrever, e comecei a fazê-lo sobre coisas que não tinham sentido nenhum, pelo menos à primeira vista. Por exemplo sobre cenouras. E o que me saiu foi isto:

«À primeira vista, as cenouras têm uma coloração alaranjada e uma superfície rugosa. Isto não invalida que estejamos perante um tubérculo que encerra em si alguns dos maiores mistérios da criação universal. Afinal de contas, as pessoas costumam atribuir-lhe benefícios para a saúde, que certamente não serão de desprezar, conferindo-lhes até um poder de atracção que desperta a maior cupidez entre quem não consegue aceder-lhes, daí que se diga acenar com uma cenoura a alguém quando se pretende levar a pessoa a fazer algo que à primeira vista não iria fazer, talvez por ir contra a sua consciência ou contra outra coisa qualquer, que esta coisa de consciência anda um tudo-nada sobrevalorizada. E se, na imagética popular, não é inusual retratar o andamento de um burro, quando este se recusa a fazê-lo, acenando-lhe com uma cenoura presa a um cordel suspenso por cima da sua cabeça, de maneira a que este possa ser forçado a caminhar com a finalidade de alcançar a tão almejada cenoura (e aplicando aqui um silogismo), as pessoas a quem nos referimos acima estarão dentro da categoria dos referidos animais, salvas as devidas proporções e formas anatómicas.

A esta tal de cenoura são atribuídas virtudes medicinais, intimamente ligadas à questão da visão, daí se podendo inferir que as pessoas que têm visão serão grandes proprietários de uma boa quantidade de cenouras.

Mas a grande questão prende-se muito claramente com a origem das cenouras. Não sendo nossa intenção encontrar uma qualquer explicação cabalística para a sua origem, estabelecemos uma série de contactos com especialistas no ramo das cenouras, de que destacamos o senhor António, proprietário de uma horta que fornece o quiosque do jardim, sito à localidade de Bolores, junto ao jardim principal (e único, diga-se de passagem) daquela povoação.

Muito embora tenhamos tido o elementar cuidado de verificar se na verdade o nome da localidade influenciava de alguma maneira as condições de armazenamento dos referidos tubérculos, não nos foi possível obter, até ao momento, nenhuma garantia da autoridade política máxima da localidade que nos pudesse tranquilizar acerca das condições sanitárias em tal bolorenta localidade; no entanto, garantiu-nos o especialista acima citado que as cenouras provêm da região saloia que abastece uma boa parte da capital do país e que o seu destino não se encontra em segredo de justiça, sendo tão-só e apenas os mercados da zona da capital. Ficar-lhe-emos eternamente gratos pelos esclarecimentos prestados.»

Doutra vez, saiu-me algo sobre o que acontece depois de chover, ideia que não cheguei a desenvolver. Ficou resumida ao que abaixo se pode ler:

«Ainda não ficou cientificamente estabelecido que depois de chover não venha a chover novamente. Em todo o caso, é do conhecimento geral que, depois de chover, fica tudo molhado. Pelo menos, tudo o que estiver à chuva.
Aqui fica o ditado popular: quem está à chuva molha-se.»
Enfim, ideias...

terça-feira, outubro 10, 2006

Telemóveis e outros «modernismos»

Eu e o telemóvel temos algumas incompatibilidades. Não é que ache que se trate de um instrumento inútil, mas lá que anda sempre a intrometer-se na vida e nas conversas das pessoas, não anda longe disso, pelo menos no exemplo que a seguir se descreve.

Está uma pessoa a meio de uma conversa com outra, trrim, eu sei que agora já não é trrim, que ligam directamente aos cantos polifónicos dos monges de São Bento, mas pronto, faz de conta que é trrim, dá mais jeito agora, é mais curto, mais maneirinho, dizer apenas trrim, está?, fica a conversa a meio, as palavras ficam perdidas e depois já não há maneira de darem com o caminho, nem umas migalhinhas ficaram, como na história da Casinha de Chocolate, Hanzel und Gretel no original, que há que respeitar as origens das histórias e os direitos de autor, pelo menos quando convém.

Fico sempre irritado quando isto acontece, deixa-se uma pessoa de cara à banda, seja lá o que isto quer dizer, a olhar para a outra que está com o telemóvel pendurado da orelha, para brinco é um tudo-nada grande demais, mas enfim, da cara de parvo já não me livro, agora ponho-me a olhar para a parede ou para outro lado qualquer, e quando o tal de telefonema é dado por findo não há meio de retomar o fio à meada, o instante da conversa perdeu-se, mudou de casa, emigrou para o estrangeiro, não há nada a fazer, nem contratando um detective, desses que andam por aí a espiar as mulheres e os maridos e até fazem publicidade nos jornais, muito embora seja tudo ilegal, neste país ainda é uma actividade ilícita, e ainda bem, senão andava meio mundo a espiolhar a vida da outra metade, já chega de espiolhanço o que as novas tecnologias vieram trazer, vais aqui ou acolá, levantas dinheiro com o cartão e pimba, já te marcaram o rumo, traçam-te a vida toda pelos cartões, pela Via Verde, amarela, encarnada, por todas as cores e mais alguma, desta já não nos livramos.

Dizia eu que o telemóvel e eu temos algumas incompatibilidades. É verdade. Esqueço-me de o ligar dias a fio, semanas inteiras, não sou como aqueles que até de noite o deixam por ali à mão de semear, se bem que não sei o que vão semear durante a noite, só se forem sonhos, que esses semeamo-los todos os dias para ver se crescem, deixam-me recados e não os ouço, no outro dia até era uma coisa urgente, um encontro marcado, de trabalho, entenda-se, não liguei o telemóvel e fiquei para ali à espera, só ao fim de uma hora me lembrei de o ligar, lá estava a mensagem, não vou poder ir, senti-me mal hoje de manhã, vou à consulta e tudo, telefona-me para combinarmos outro dia. Já estava o caldo entornado, pronto, uma manhã para nada, agora tenho que ir fazer horas para qualquer lado até começar o trabalho, aproveito e vou às compras, vou, não vou, acabei por ir, sempre tiveram algum préstimo, afinal, aquelas horas de permeio, mas as horas de sono essas já ninguém mas devolve, devem achar que uma pessoa está sempre à espera que lhe telefonem, eu cá não, também não estou atrás da porta sempre que me tocam à campainha. Nisto os correios são especialistas, não atendes logo e zás, quando vais ver quem é já se puseram na alheta, eis mais outra expressão daquelas que despertam a curiosidade, afinal o que é a alheta, deve ficar tão escondida que nem se sabe onde é, senão ia lá ver se lá estava quem para lá foi. Depois fica o avisozito na caixa do correio, mais uma hora perdida na bicha do correio para levantar a encomenda, pagar o aviso, o que quer que seja que as pessoas se lembram de enviar pelo correio. Esta última frase está cheia de ques, é aquilo a que se chama uma cacofonia.

domingo, outubro 01, 2006

Uma crónica



Hoje deixo-vos aqui uma crónica, retirada do jornal Público, do dia 3 de Junho de 2006. Gostava, sobretudo, que dessem um pouco de atenção ao estilo da escrita, e ao conteúdo do 2º parágrafo. O que se entende por «repouso imperturbado e bovino», relacionado com a televisão, o DVD, a música popular ou a conversa de computador?

Polémico, não?