sexta-feira, janeiro 05, 2007

Classicismo versus Romantismo

Se o Romantismo é por vezes caracterizado por uma certa impreparação estética, fazendo com o o texto romântico tenda a sugestionar o leitor pela peripécia romanesca, pela intensidade e diversidade das impressões que provoca, caracterizado por:

  • um estilo declamatório, por vezes redundante e vago, em que a abundância prejudica a concisão e o rigor,
  • um gosto pelas hipérboles e exclamações, que dão forma eloquente ao pensamento,
  • um gosto pelas imagens, que o concretizam e popularizam,
  • o uso de um vocabulário mais rico em alusões concretas, menos selecto, mais correntio, mais familiar e mais sensorial,
  • a introdução de dados captados no ambiente,
  • a presença física de personagens humanas, de interiores e de paisagens (em que predomina o realismo descritivo e a tentativa de dar uma cor local),
  • o recurso ao romanesco, à peripécia, que pretende estimular a imaginação, bem como a certos ingredientes fáceis e duvidosos, mas que normalmente fornecem resultados garantidos (como, por exemplo, o exotismo, a fantasmagoria),

por outro lado, o classicismo (e o neoclassicismo), mais sóbrio, mais rigoroso, possui diferenças assinaláveis em relação à estética romântica, algumas das quais podemos observar de seguida de forma sintética (ver tabela abaixo):








































































CLASSICISMO

Versus

ROMANTISMO

- bucolismo clássico ameno (o belo, o «locus amoenus»)

vs.

- o «belo horrível», o disforme,o tenebroso, cemiterial ou fantástico (o «locus horribilis»);
- ordem e medida (a clareza, a ordenação)

vs.

- o desordenado e desmesurado paisagístico e psíquico; versificação mais variada e popularizante; a libertação estética (o mistério, o sonho, a meditação);
- a razão, a inteligência

vs.

- o coração, a sensibilidade, a imaginação;
- contornos nítidos e diurnos

vs.

- o enevoado, nocturno, o sonho irreal;
- a racionalização e ponderação da estrutura da obra

vs.

- o improviso; versos lançados ao sabor de rimas audíveis; a digressão a propósito ou a despropósito; a interrupção da narrativa para introduzir um comentário ou uma confidência ao leitor; o exagero sentimental ou melodramático; a mistura de géneros;
- o epíteto classificativo ou abstracto

vs.

- a adjectivação e pormenorização descritiva orientada a dar cor local ou histórica; o pitoresco ou exótico (da Idade Média, ou espanhol, argelino, oriental, de ambientes miseráveis, das lendas e mitologias germânicas, célticas e outras); o maravilhoso ou o fantástico; um estilo em que o sublime e o grotesco se justapõem;
- o progresso político ou moral com um objectivo final em vista

vs.

- o progresso social indefinido;
- o recurso à época greco-romana

vs.

- o gosto pelas tradições medievais;
- a utilização dos deuses pagãos e da retórica clássica

vs.

- o banimento da mitologia e dos processos eruditos da retórica;
- o paganismo

vs.

- o cristianismo;
- a imitação aduladora

vs.

- o culto da originalidade pessoal;
- um mundo fechado de valores (estéticos e morais)

vs.

- um tom de mensagem ao próximo;
- a vontade, o heroísmo

vs.

- a melancolia, o abatimento.

Etiquetas: ,