Neo-classicismo e Pré-romantismo
Define-se, como sistema filosófico, o Racionalismo (que vai conduzir ao ateísmo e ao positivismo do século XIX) com a Crítica da Razão Pura, de Kant (1724).
O Racionalismo produz os germes de revolta contra a opressão espiritual da escolástica durante o século XVII. É, pois, o século XVIII, fundamentalmente, um século de crise espiritual que leva os homens à objectiva e aguda percepção dos males da época; é, por consequência, uma época em que floresce de modo extraordinário a crítica, sob a forma de sátira ou de obras e ensaios didácticos, cartas, métodos e tratados. O género satírico apresenta-se, pois, como um dos mais copiosos e representativos.
As bases em que os árcades fundamentavam a sua acção reformadora consistiam, principalmente:
• na crítica mútua, objectiva e desassombrada das produções literárias apresentadas nas sessões da Arcádia pelos seus sócios;
• no regresso à imitação dos clássicos da Antiguidade, como fontes mais puras da perfeição literária, embora adaptando-os ao gosto moderno.
Segundo os árcades, pois, as causas verdadeiras da decadência literária provinham do abandono dos genuínos clássicos e da busca de inspiração na repetida imitação dos renascentistas.
Os membros da Arcádia, isto é, os Árcades, que assinavam as suas produções com pseudónimos literários, tinham como emblema uma mão empunhando uma foice, e como legenda o lema da mesma Arcádia: Inutilia truncat (ou seja, corta o que for inútil).
O seu principal objectivo era, com efeito, restaurar a sobriedade e equilíbrio do classicismo, fugindo aos excessos do gongorismo; preconizava-se também a libertação da rima que, segundo eles, embaraçava a livre expressão do pensamento.
O principal teorizador do neoclassicismo - isto é, desta tentativa de regresso à pureza dos moldes clássicos - foi Pedro António Correia Garção, que é considerado, ao mesmo tempo, o exemplificador mais perfeito dessas doutrinas.
Como principais documentos dessa teorização literária citaremos a famosa Sátira sobre a Imitação dos Antigos, dirigida ao conde de S. Lourenço, e a Epístola a Olino. A Cantata de Dido é, com justiça, considerada como a mais perfeita exemplificação das teorias preconizadas.
Verifica-se, no entanto, que o neoclassicismo falhou nos seus objectivos, embora tivesse dado frutos positivos como preparação para a atitude mental pré-romântica e chamado a atenção para a frustração literária que se vinha verificando. De resto, a sua acção prevalece concomitantemente com o pré-romantismo e os moldes arcádicos mantêm-se mesmo para além da implantação do Romantismo.
Com o influxo da poesia germânica, porém, envereda-se por um caminho diferente de renovação - o pré-romantismo, que consiste na busca da inspiração, não nas já exauridas ruínas clássicas, mas nas inesgotáveis fontes do mundo interior do próprio indivíduo. Essa será a via segura duma profunda revolução mental e espiritual que se concretizará com o movimento romântico.
Três anos após a fundação da Arcádia, efectivamente, já Correia Garção se apercebera da falência dos seus objectivos fundamentais, e atribuía essa falência a causas meramente exteriores: a falta de assiduidade dos membros, a falsificação da critica objectiva. As verdadeiras razões, porém, estavam nas novas necessidades estéticas que só encontrariam solução com o advento - já próximo - do Romantismo.
Quanto aos mais importantes membros da Arcádia, além de Garção, de que falaremos a seguir, é digno de menção especial António Dinis da Cruz e Silva.
Entre os que, mais decisivamente, se lançaram neste novo rumo, citaremos Bocage e a Marquesa de Alorna, Alcipe (além destes, Filinto Elísio e José Anastácio da Cunha enfileiram em tendências semelhantes). Nestes poetas, encontramos já muito dos elementos que podem considerar-se como definidores duma estética romântica:
· gosto pela solidão;
· identificação da natureza com os estados de alma;
· preferência pelas paisagens sombrias e agrestes ou tumultuosas.
· utilização literária do maravilhoso popular (fadas, génios, gnomos);
· adopção duma simbologia especial - aves nocturnas, espectros - que vai conduzir ao aproveitamento do belo-horrível como tópico da literatura romântica;
· preferência pelos temas da noite, da escuridão, etc.
Etiquetas: Neo-classicismo, Pré-romantismo
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